Texto por Mathias Bloch

O sêfer Bamidbar começa com um censo, que conta os homens acima de 20 anos de idade, detalhando o número de cada tribo – com a exceção de Levi, onde são contados até mesmo as crianças a partir de um mês.

Em seguida, o capítulo II descreve a formação do acampamento de Yisrael, com a disposição de cada tribo, iniciando com aquela que vai à frente: Yehudá, que é a tribo que representa a liderança, e será o berço dos futuros reis de Yisrael. O mais interessante é observar quais são as tribos escolhidas para permanecer em volta de Yehudá: primeiro Yissachar, que é descrito como “próximo/ao lado”, seguido de Zevulun, como está na Torá:

E os que acamparão voltados para o Oriente serão os do estandarte do acampamento de Yehudá, segundo os seus exércitos; e o príncipe dos filhos de Yehudá – Nachshon ben Aminadav. E o seu exército, e os que dele foram contados – 74600. E os que acamparão junto a ele serão da tribo de Yissachar, e o príncipe dos filhos de Yissachar – Netanel ben Tzuar. E o seu exército, e os que dele foram contados – 54400. E a tribo de Zevulun, e o príncipe dos filhos de Zevulun – Eliav ben Chelon. E seu exército, e os que dele foram contados – 57400. Todos os que foram contados co acampamento de Yehudá…” (Bamidbar 2:3-9)

E depois a Torá passa a falar das demais tribos, mas claramente separa essas três. Mas quem são Yissachar e Zevulun para poderem ser aqueles tão próximos da realeza? Tão próximos da liderança?

O Midrash – Bereshit Rabbah em 98:12 – conta que Yissachar e Zevulun tinham uma relação muito específica:

Alegra-te, ó Zevulun, em suas jornadas, e Yissachar, em suas tendas”.
Não apenas Zevulun é mencionado primeiro novamente, mas ele deve encontrar sua satisfação no conhecimento de que Yissachar pode habitar nas tendas da Torá graças à generosa e constante contribuição de Zevulun. Facilitar o estudo da Torá é equivalente a estudá-la.

Sendo assim, Zevulun trabalhava para permitir que o irmão estudasse de forma integral, e ele não só aprendia com o irmão, mas também recebia um mérito equivalente, por facilitar o estudo.

Mas, o que isso teria a ver com o posicionamento das tribos? A Torá tem a capacidade de nos ensinar lições valiosas a partir de porções que parecem áridas, como as contagens e posicionamentos de marcha etc., são capazes de nos ensinar lições poderosíssimas.

Para que alguém possa reinar é necessário, primeiro, o estudo de Torá, que tem como objetivo a aproximação do homem com H’Shem e suas caracterísiticas, com o entendimento das leis, da tradição. Esse é o fundamento do reinado. Mas não basta apenas isso.

Após Adam e Chava, e sua transgressão de desobediência, é criada uma nova obrigação ao homem: ganhar a vida a partir do suor do seu trabalho. A partir de agora, para realizar a função do ser humano como imagem e semelhança de D’us, é necessário trabalhar duro para que possamos nos sustentar e, consequentemente, sustentar o próprio estudo de Torá.

Sendo assim, o trabalho que permite o estudo também recebe o mérito deste, e isso gera a verdadeira autoridade para governar, reinar, habilidade que, de alguma forma, foi perdida depois da expulsão do Gan Eden.

Atualmente, a autoridade possível ao homem é aquela sobre as nossas vidas, a autoridade para tomar as decisões corretas, para que seja possível alcançar seu maior nível espiritual e até mesmo físico. Para isso precisamos de duas coisas: Estudo de Torá e o trabalho que sustenta tal estudo – que praticamente dobra o mérito.

Todos possuem as duas facetas: do estudo e do trabalho, esse deve ser o foco, trabalhar para sustentar o seu estudo, sem isso, é impossível ter a verdadeira autoridade de tomar as decisões corretas. A Torá deixa claro que devemos seguir a mesma formação, que protege o Tabernáculo – que representa o relacionamento do homem com D’us -, e permite que ele marche, mesmo diante dos 40 anos do deserto.