Texto por Mathias Bloch
Poucas berachot são descritas diretamente na Torá, uma delas ocorre na parashá Nassô, a Birkat Kohanim, a bênção que os sacerdotes fariam para todo povo de Yisrael. A Torá diz:
“E porão Meu Nome sobre o povo de Yisrael e Eu os abençoarei” (Bamidbar 6:27)
E, em seguida a Torá diz qual é a bênção a ser proferida.
יְבָרֶכְךָ ה’ וְיִשְׁמְרֶךָ
יָאֵר ה’ פָּנָיו אֵלֶיךָ וִיחֻנֶּךָּ
יִשָּׂא ה’ פָּנָיו אֵלֶיךָ וְיָשֵׂם לְךָ שָׁלוֹם
“Que H’ te abençoe e guarde Que H’ faça respandecer o Seu rosto sobre ti, e te agracie. Que H’ tenha misericórdia e ponha em ti a paz.“
O Rav Pinchas Horowitz, em seu comentário sobre a Gemará em Ketubot, fala sobre duas obrigações: a dos kohanim de abençoar o povo e a do povo de ouvir e receber a bênção.
Ou seja, não basta só proferir a bênção, aqueles que recebem devem estar atentos à ela. O Rav Tzi Macklenberg explica que um dos motivos é óbvio: se D’us é a causa de tudo, então nossos sucessos e bem-estar também são por Ele determinados, sendo assim, faz sentido que o povo tenha que prestar atenção para algo tão importante.
Podemos dizer também que a birkat kohanim é uma forma para que todos tenham ciência da providência divina e que estejam atentos às evidências diárias da ação do Santo, Bendito Seja, no mundo.
Sendo assim, um movimento de lembrar da realidade da providência divina permaneceu constante tanto na época da entrega da Torá e no tempo do Mishkan, e do Primeiro e Segundo Templos.
A questão é que atualmente não temos mais o Templo, os grandes milagres não estão mais tão evidentes, e tudo indica que é o foco no físico, nos prazeres e nos desejos, o que rebaixa bruscamente a percepção de santidade e, consequentemente, da providência divina.
Talvez seja um atrevimento, mas o farei da mesma forma: é muito provável que, com o passar do tempo, a Birkat Kohanim torne-se ainda mais importante, uma vez que nos lembra, nessa situação toda, que D’us é a fonte do nosso sustento, ou melhor, da nossa existência como um todo.
A berachá se transformou de uma lembrança para uma luz no meio da escuridão que permeia o mundo, uma maneira quase que óbvia de nos mostrar que existem vários caminhos, mas que um deles é seguro para ser trilhado de fato.
Então, a ideia de que o Kohen precisa abençoar o povo faz mais sentido ainda. Porém o povo tem a clara obrigação de ouvir atentamente àquelas palavras, já que o som do mundo é ensurdecedor para a alma, dificultando a compreensão a mensagem verdadeira, desde os tempos de Adam e Chava.