Texto por Mathias Bloch

Nesta semana iniciamos um novo livro, Shemot, com a parashá de mesmo nome. O livro recebe o nome Êxodo em português, e geralmente é comum ouvir que as traduções são mais descritivas do conteúdo de cada porção do Tanach do que os nossos nomes usuais em hebraico, já que shemot tem como significado ‘nomes‘, o que nos dá uma ideia diminuta da razão de ser do livro, é uma boa introdução, uma vez que está diretamente relacionado aos nomes das almas que desceram até o Egito com Yosef haTzadik:

Estes são os nomes dos filhos de Yisrael que vieram ao Egito com Yaakov – cada um veio com a sua família” (Shemot 1:1)

Mas não descreve completamente o conteúdo. Então o nome êxodo é mais abrangente, uma vez que é contado o episódio relativo à nossa saída do Egito, porém isso também não conta toda a história. Nossa tradição dá outro nome para Shemot, menos usual, mas muito mais importante: Sefer haGeulá – o Livro da Redenção. Começamos com a descida, física/geográfica e espiritual do povo, vivendo no Egito, e a Parashá nos presenteia com o início da vida do maior profeta que já existiu, o homem que falava com D’us cara-a-cara, Moshe Rabeinu.

O Livro segue com a saída do Egito, liderada por Moshe, Aharon e Miriam, guiados por D’us. Mas não acaba aí, vamos até o Monte Sinai, onde receberíamos a Torá e nos transformaríamos em um povo, que H’Shem faz questão de descrever como ‘Povo de sacerdotes, um povo santo’. Sendo assim, Shemot é muito mais do que o êxodo. Existe a salvação, mas é apresentado o propósito do povo judeu: Seja santo, pois Eu, seu D’us, que lhe salvou, Sou santo. Isso independe de qualquer dificuldade que for encontrada no caminho. D’us ouve o choro do povo e envia diversas respostas para o problema, as mais conhecidas delas são as pragas que assolaram o Egito.

parashá Shemot deixa claro esse processo, apresentando diversas dificuldades impostas pelo faraó, desde o assassinato dos bebês, até o trabalho que quebra as costas do povo, onde o Faraó ordena, ao ouvir de Moshe e Aharon que ele deveria libertar o povo, que deveriam continuar produzindo os tijolos, mas dessa vez eles teriam que obter uma matéria prima por conta própria, a palha.

O Rav Menachem Mendel de Vorka faz uma pergunta interessante: Por que o faraó decidiu especificamente sobre a palha? Por que não aumentar a cota de tijolos diários? Uma vez que essa opção seria muito melhor para o próprio Egito, que teria mais material de construção, no lugar de fazer com que trabalhassem mais para obter o mesmo resultado.

O Rav Mendel sugere que o faraó teria entendido que a ansiedade por trás da incerteza pode ser pior do que o trabalho duro. Ele tinha o desejo de atormentar o povo, sendo assim decidiu não apenas aumentar o tempo de trabalho, mas primariamente, aumentar a pressão sobre eles. Querendo que seus escravos não só usassem todas as horas do dia, mas que sofressem com a ansiedade torturante de encontrar palha suficiente para a produção do dia, e pior, não vendo mudança alguma no resultado, por mais que trabalhemos.

De fato, isso que o Faraó desejava:

Torne-se mais pesado o serviço sobre os homens e que o façam. E não creiam em palavras mentirosas” (Shemot 5:9)

Não tenham tempo de ter esperança, esse era o objetivo. Com menos tempo, menos tempo para sonhar, menos tempo para desejar, menos tempo para rezar, menos tempo para pedir a ajuda Daquele que poderia resolver o problema, além de estarem sujeitos à pressão contínua do trabalho.

Qualquer semelhança com os dias de hoje é mera coincidência – para os completamente cegos. Os maiores obstáculos para o crescimento real e aproximação de D’us são queles que colocamos diante de nós mesmos de forma desnecessária. Vivemos com ansiedades, independente do tamanho do problema, que muitas vezes não merecer nossa energia – seja mental, física ou emocional. Essas ansiedades agem como o faraó, perdemos foco e atenção naquilo que é mais importante, sendo assim nos tornamos o nosso próprio ‘faraó’, escravizamos a nós mesmos, aumentando nosso estresse, e prevenindo nossas rezas, sonhos e ambições.

Como resolver? Obviamente o Egito de cada um é único, mas a fórmula da solução está apresentada na nossa parashá e na parte inicial do livro de Shemot: Moshe é guiado por H’Shem para libertar o povo. Nós precisamos nos dedicar às nossas rezas, para que D’us possa nos guiar pelos nossos egitos e desertos particulares, nos demonstrando como utilizar as energias físicas, mentais e emocionais para alcançar a nossa liberdade real.

O Rav Ari Kahn fala que D’us escuta todos, até aqueles que ‘não acreditam’, ele diz:

As rezas mais puras são aquelas das crianças e dos ateus. O ateu quando reza diz: ‘D’us, se você existe, me dê um sinal’, se a pessoa pediu de verdade, e mantiver seus olhos abertos, o sinal virá em seguida.

Isso vale para todos, na verdade. Se for um pedido honesto, o direcionamento virá. A partir disso, basta caminhar.